A primeira segunda-feira de maio é marcada por um dos eventos mais importantes da moda: o Met Gala. O evento, que tem como objetivo arrecadar fundos para o Costume Institute do Metropolitan Museum of Arts, reúne as celebridades mais incensadas em montações mirabolantes, que reforçam o quanto a moda pode ser divertida e nos transportar para um universo repleto de fantasia, além de entregar fashion moments que se tornam verdadeiros ícones da cultura pop – sim, Rihanna com esse look amarelo Guo Pei em 2015, eu estou falando de você.
Para entrar no clima da festa, esse post vai te contar a história do Met Gala. Para isso, visitaremos o trabalho de três mulheres incríveis e essenciais para a criação/evolução do evento como conhecemos hoje. Bora lá?
Chamado de Costume Institute Gala – seu nome verdadeiro -, o Met Gala teve sua primeira edição em 1948, com um jantar elegante no início de dezembro, à meia-noite, no Waldorf Astoria. O objetivo já era angrariar fundos para o Costume Institute, por isso, a elite nova-iorquina recebeu convites para a “Festa do Ano”, no valor de 50 dólares cada – cerca de 550 dólares nos dias atuais. O formato jantar de gala + pessoas com dinheiro + hotéis e locações famosas de Nova York seguiu até o início dos anos 90.
O Met Gala foi criado por Eleanor Lambert, uma legendária publicitária e RP responsável por difundir, alavancar e estabelecer a moda feita nos EUA. Só para você ter uma ideia do quão incrível e importante foi o trabalho dela: além do Met Gala, Eleanor também criou, em 1943, a Semana de Moda da Imprensa, precursora da NYFW, a Lista Internacional das Mais Bem Vestidas e, em 1962, o CFDA, Conselho Americano dos Designers de Moda.
Antes do trabalho de Eleanor, a “alta-moda” estava restrita apenas a Paris, e Nova York não passava de um lugar repleto de fábricas e réplicas dos designs parisienses. Dá pra saber muito mais sobre essa história e sobre o trabalho de Eleanor no livro “A Batalha de Versalhes” – temos uma resenha bem detalhada dele aqui!
O Met Gala repleto de glamour e famosos, com um tema central para os looks e a festa acontecendo dentro do museu é fruto do trabalho de Diana Vreeland. Com seu olhar apurado para a extravagância, uma lista invejável de contatos e atenção aos mínimos detalhes – da trilha sonora ao perfume que preencheria o espaço quando os convidados entravam – a aclamada ex-diretora da Vogue criou uma atmosfera completamente nova, transformando o jantar de arrecadação em uma das noites mais importantes do calendário de Nova York.
Além de mudar o estilo e locação do “Superbowl da Moda” e convidar celebridades como Andy Warhol, Bianca Jagger e Cher para elevar a imagem e ampliar o alcance do evento, Diana também apostou na parceria com ícones como Jackie Kennedy Onassis e Pat Buckley (socialite e fashionista), que foram copresidentes de edições do evento. A prática de trazer famosos para copresidirem a festa é feita até hoje. Em 2022, os co-anfitriões serão Blake Lively, Ryan Reynolds, Regina King e Lin-Manuel Miranda.
A atuação de Diana como curadora das exposições também é destacada pelo Met e pelo ex-diretor do museu, Thomas Hoving em entrevista: “Tivemos que manter os shows por nove meses, havia muito tráfego – quase um milhão para ‘Romantic and Glamourous Hollywood Design’. Nós atraímos uma multidão completamente diferente, jovem e moderna, que desde então se tornou cliente. E ganhamos muitos presentes. O instituto se tornou o ponto quente para doações.” Diana trabalhou com o Costume Institute e o Met Gala até sua morte, em 1989.
O Met Gala seguiu grandioso e fascinante como Diana Vreeland havia imaginado, mas foi Anna Wintour quem trouxe o ar de exclusividade, com acentos disputados e listas de convidados milimetricamente planejadas – é possível ver um pouco desse processo no documentário “The First Monday in May”. O controle minuscioso de Anna, que trabalha com o Met desde 1995, e sua equipe vai da lista ao mapa de assentos, passando até mesmo pelo que determinados convidados irão vestir, como conta essa matéria do NY Times.
A aura inacessível do evento, que reúne as personalidades mais influentes do momento nas artes, moda, música, negócios e política, contribuiu para elevar o status e deixar o Met Gala ainda mais desejado. A exclusividade é tanta que, mesmo que as pessoas ou marcas estejam dispostas a pagar os 30 mil dólares por ingressos individuais ou cerca de 250 mil por uma mesa, é Anna quem tem a palavra definitiva sobre a lista, que gira em torno de 550 convidados.
O resultado de todo esse trabalho são arrecadações astronômicas – em 2019, “Camp: Notes of Fashion” arrecadou 15 milhões de dólares – e todos os olhos atentos para o red carpet ou qualquer selfie de banheiro que ultrapasse a rigorosa proibição de celulares e uso de mídias sociais durante o evento. O poder de Anna é tanto que, em 2014, o recém reformado Costume Institute foi rebatizado de Anna Wintour Costume Center.
É isso mesmo que você leu. Por 50 anos, o Met Gala aconteceu no início de dezembro. Na verdade, a famosa primeira segunda feira-de maio foi fruto de uma fatalidade. Em 1999, o curador do Costume Institute, Richard Martin, faleceu e, em respeito a sua memória, a exposição e o baile foram adiados para 2001.
Na hora de escolher uma nova data, percebeu-se que a temporada de primavera era bem menos lotada de eventos sociais em Manhattan e isso poderia ser uma ótima oportunidade para o evento se destacar ainda mais. Parece que funcionou, né?
A edição 2022 do Met Gala traz a segunda parte de uma exposição celebrando os estilistas e a moda dos Estados Unidos – Eleanor Lamber ficaria bem felizinha, hein? O tema “In America: An Anthology of Fashion” investiga a evolução da lingugagem da moda americana e as peças icônicas de estilistas estadunideses, que mudaram o rumo da moda. E se no ano passado o red carpet foi um tanto quanto preguiçoso, com poucas pessoas seguindo o tema de verdade, espero que esse ano as coisas sejam melhores.
É isso! Gostou de saber mais sobre a história do Met Gala? Eu amei fazer a pesquisa e escrever sobre!