House of Gucci: 13 histórias do filme que não aconteceram assim na vida real

O esperado House of Gucci ou Casa Gucci estreou nos cinemas na última quinta-feira (25) e, como boa entusiasmada, estava no cinema o mais cedo pós-expediente possível. O filme foi inspirado no livro Casa Gucci: uma história de glamour, cobiça, loucura e morte, de Sara Gay Forden, que eu li, adorei e fiz um post todo especial pra te colocar por dentro de quem eram os personagens envolvidos, quais eras as MUITAS brigas/polêmicas e como aconteceu a história de Maurizio e Patrizia. Não leu ainda? Aqui fica o link!

Acontece que para escrever o post, eu estudei um pouco e reli vários trechos do livro, o que me fez ficar com todas as informações fresquinhas na mente e perceber que o filme foge da história real ou a reinventa em vários pontos cruciais e, também, em outros mais sutis. É claro que eu entendo que há licença para se criar em cima, inclusive, o filme se intitula “inspirado”, não baseado no livro. Ainda assim, algumas mudanças só contribuíram para deixar os personagens menos interessantes. Então bora descobrir o que em Casa Gucci o filme, não aconteceu ou aconteceu diferente na vida real?

1. Patrizia não era uma menina pobre e ingênua

Logo no comecinho do filme temos uma das mudanças que eu mais detestei. Patrizia é apresentada como uma mulher sem dinheiro, humilde, que é secretária do pai em uma empresa pequena de caminhões e não conhecia as pessoas do círculo de Maurizio. Isso tudo para criar aquela imagem clássica de uma mulher que só estava interessada no dinheiro de Maurizio. Na verdade, Patrizia foi pobre durante sua infância, porém, quando vai morar com o pai, Ferdinando Reggiani, passa a ter uma vida repleta de luxos, é uma mulher festeira, cheia de personalidade, muito sociável e bem relacionada, frequentando alguns círculos em comum com o herdeiro Gucci. É claro que não era milionária como a família protagonista do filme ou tinha um sobrenome tão renomado, mas tinha dinheiro e era mimada pela família.

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Pelo livro, o sobrenome dos Gucci é muito mais atrativo do que o dinheiro em si. Se a gente fosse encontrar um clichê para Patrizia, ela seria muito mais aquela “nova rica”, que usa visuais ostentatórios, repletos de joias e casacos de pele, não se encaixando na estética e no mundinho das garotas privilegiadas que sempre tiveram dinheiro, status e provavelmente são a tradução do estilo preppy/patricinha rica, sabe? Aquela garota tímida, que não entrou no restaurante chique não encaixa nada nada com a sua personalidade.

2. Patrizia não corre atrás do Maurizio

Mais uma cena para criar essa personagem que está obsessiva atrás de Maurizio e suas posses é quando Patrizia vai atrás dele e entra na biblioteca de uma faculdade na qual nem estuda – aqui tem outra mudança na história do filme, quando Maurizio pergunta se ela estuda ali também, Patrizia responde que não estuda e só trabalha para o pai, mas, na vida real, ela estudava para ser tradutora. Tudo isso pra dizer que essa cena não é mencionada no livro e é Maurizio quem fica completamente vidrado nela e apaixonado, a ponto de PEDI-LA EM CASAMENTO NO SEGUNDO ENCONTRO. Perdão pelo grito, mas é que esse desenho da personagem me deixou muito irritada mesmo, não fica muito mais interessante saber que esse cara tímido e castrado pelo pai ficou apaixonadaço por essa garota, que era seu completo oposto, vibrante, alegre, excessiva e que depois tudo deu muito, muito errado? A vida real é muito mais assim, sem falar que é um bocado machista pegar a única personagem feminina da história e desenhá-la dessa maneira, né?

3. Paolo não era esse paspalho/bobo da corte/sem potencial

Eu reclamei muito da construção da Patrizia, mas sério, Paolo é uma das coisas mais toscas/sem sentido do filme. É um personagem humor pastelão que contrasta completamente com o resto do filme, da história e chegou a ser constrangedor de assistir.

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Paolo era dramático, era excêntrico e dizia umas frases tipo “você arrancou meu coração e arrastou no alfasto” mesmo. Mas não era esse completo idiota, sem talento e ingênuo. Paolo trabalhou nas fábricas da Gucci em Florença durante muitos anos, se tornando o diretor das fábricas quando seu tio, Vasco, morreu. Ele é quem cria a primeira coleção prêt-à-porter da Gucci e um dos responsáveis por questionar as finanças e lucros da família.

4. Paolo entrega o pai pra receita sozinho

Enquanto no filme Paolo encontra os papéis, mas é Maurizio quem entrega o tio para a justiça, deixando Paolo preocupadíssimo por ter traído o próprio pai, na história real é o próprio Paolo quem preenche os papéis e envia a denúncia para a IRS. Ele já vinha há um tempo questionando o lucro das empresas da família e era completamente proibido de ter acesso aos papéis, o que não o impediu de pesquisar por conta própria e ir recolhendo o que conseguia. Segundo o livro, a prisão de Aldo é uma vitória para Paolo, que passa então a reunir os papéis para denunciar Maurizio por falsificar as assinaturas de ação e compras com dinheiro desviado.

5. Não foi Patrizia quem falsificou as assinaturas das ações

As assinaturas falsificadas das ações que isentariam Maurizio de pagar milhares em impostos realmente aconteceram, porém não foi Patrizia quem as realizou. Maurizio foi culpado por isso, mas é uma funcionária quem falsifica as assinaturas.

6. Patrizia não tem envolvimento com a compra das ações dos tios e primos de Maurizio

Ainda que Patrizia aconselhasse Maurizio sobre diversos assuntos referentes à empresa, não tem nenhuma menção no livro sobre ela impulsionar Maurizio a destituir seus parentes comprando suas ações. Na verdade, cronologicamente, os dois já estavam em processo de sepração e a mentoria de Patrizia não era mais interessante a Maurizio, que recorria a seus advogados. O advogado Domenico De Sole é quem sugere a Maurizio a destituição de Aldo da diretoria quando começam os problemas com a IRS e, depois, quando Maurizio é denunciado por Aldo e Paolo por falsificar as assinaturas do pai nos certificados das ações, é que temos o estopim para a busca de investidores comprarem as ações de toda a família, dando a Maurizio o controle da Gucci.

7. Maurizio e Patrizia têm mais uma filha

Além de Alessandra, que nasceu em 1977, Maurizio e Patrizia também são pais de Allegra, que nasceu em 1981.

8. A família Gucci é muito maior

E já que estamos falando sobre membros da família que não apareceram no filme direito, a árvore genealógica dos Gucci é maior do que aparece nas telas, ainda que os principais envolvidos nas polêmicas sejam realmente os personagens do filme. Guccio Gucci, o fundador da empresa, teve 5 filhos, enquanto Aldo teve mais 2 filhos além de Paolo, chamados Giorgio e Roberto. Você pode saber mais acessando esse post aqui.

9. Rodolfo e Maurizio já estavam de bem muito antes dele morrer

No filme, Maurizio e o pai só voltam a ter uma relação quando Rodolfo está doente e prestes a morrer, mas, na verdade, os dois se acertam muito antes disso, graças à mediação de Aldo, que vê em Maurizio uma futura boa liderança para a Gucci. É Rodolfo quem vai instalar o casal em Nova York e lhes presentear com uma grande cobertura e outras propriedades. Eles passam a se dar bem nessa época e nunca tocam nos assuntos que causaram seu rompimento tantos anos antes.

10. Maurizio e Patrizia já estavam separados quando vão para a Suíça

Eu entendo que tem que economizar tempo, ainda mais em um filme tão extenso, né kkk, mas Maurizio já tinha se separado de Patrizia muito antes dela e das filhas irem visitá-lo na Suíça – onde estava exilado fugindo da Polícia italiana. Em 1982, Maurizio diz à esposa que irá fazer uma pequena viagem para Florença, onde ficavam as fábricas da Gucci. No dia seguinte, ele manda um amigo informar Patrizia que não voltará mais para casa. Ela fica devastada e muito brava pela falta de coragem do marido de lhe dizer pessoalmente o que queria – e com razão, se você me permite opinar. Inclusive, vale destacar que Maurizio é essa pessoa que foge dos confrontos e encarrega alguém de resolver durante toda a narrativa.

A viagem de ambos para a Suíça, em 1985, parece ser uma possibilidade de retorno para Patrizia e é aí que Maurizio age como o babaca que foi no filme, incluindo a cena de violência em que a levanta do chão pelo pescoço – que aconteceu mesmo.

11. Aldo nunca esteve envolvido em réplicas de bolsas Gucci

Ainda que em determinado momento a Gucci tenha lançado inúmeras linhas, com preços acessíveis e bolsas de lona com o nome da grife sendo vendidas em balcões de lojas de departamento e até cosméticos, Aldo nunca esteve envolvido em falsificações como mostra no filme. Inclusive, a Gucci teve uma longa batalha judicial contra esse tópico e, só em 1977, abriu 34 processos contra falsificação em seis meses. Já na primeira metade de 1978, mai de duas mil n

12. Pina, a amiga de Patrizia, não era taróloga na TV

Esse é um alívio cômico que funcionou bem no filme, mas não aconteceu de verdade. Patrizia e Pina se conheceram em uma estação de águas em Ischia, uma ilha distante da costa de Nápoles, conhecida por suas cachoeiras térmicas e banos de lama. Pina era divertida, engraçada e jogava tarô muito bem, mantendo Patrizia envolvida por horas.

13. Maurizio não está mais na Gucci no lançamento da coleção famosa de Tom Ford

Essa foi o próprio Tom Ford quem desmentiu em uma análise do filme para a newsletter Air Mail. Quando lança a icônica coleção de 1997, a Gucci já não é mais comandada por Maurizio, que vendeu suas ações em 1993. E Tom continua: “Maurizio era um péssimo homem de negócios. Ele costumava ocupar toda a equipe de design por semanas para criar novos uniformes para a tripulação de seu iate, O Creole, em vez de nos deixar trabalhar na próxima coleção da Gucci”.

E o filme, é bom?

Quem leu o nosso post sobre o livro sabe que a família Gucci era extremamente intensa, com brigas homéricas, confrontos na justiça e físicos mesmo. Juntando isso com o declínio de Patrizia e sua obsessão por Maurizio + um assassinato, era de se esperar um filme eletrizante, bem no estilo que o trailer foi. Mas não é assim que acontece. O filme ficou meio parado, sem grandes reviravoltas, com o mesmo ritmo do início ao fim. E não me entenda mal, eu estava muito querendo gostar, mas não gostei.

O elenco é bom, Lady Gaga realmente entregou, o figurino é bonito – mas podia ter exagerado mais no armário da Patrizia – a trilha sonora é boa. Mas faltou o carisma, faltou o teor novelão que era típico da família e faltou os homens fortes e muitas vezes sem escrúpulos para derrubarem/driblarem uns aos outros. Não é de graça que a família era chamada nas matérias da época dos escândalos como Dinasty italiana – em referência à série bem estilo novela que foi sucesso nos anos 80, sabe? Ainda que o livro trate de assuntos mais técnicos em alguns momentos, existiam capítulos realmente divertidos durante a leitura que me fizeram pensar “O QUE???????” e não me deixavam soltar o livro porque a fofoca estava boa demais. O filme não repete esse feito nem de longe, entregando lapsos de cenas boas, mas várias outras esquecíveis.

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Por último, faltou personagens tridimensionais: é possível simpatizar e detestar cada um dos personagens do livro, porque eles são bons, mas também são maus. Se ajudam e depois puxam o tapete um do outro. São fofos e depois crueis. No filme faz falta essas nuances, que tornam a história muito mais relcionável, real e deliciosa. Em resumo: não foi dessa vez.

História da Modamoda