Semanas finais de 2022 e a gente já entra naquele clima gostoso de retrospectiva, né? E tem uma tradição aqui do blog que eu tenho gostado muito-muito-MUITO de fazer a cada dezembro: listar os melhores livros que li em 2022. Além de ser um ótimo momento pra relembrar as histórias, também é um jeitinho de celebrar as autoras que me inspiraram durante o ano indicando seus trabalhos.
Ainda não comprou seu presente de natal ou tá atualizando a listinha de leituras pra 2023? Esse post foi feito pra você e tá recheado de autoras brasileiras – o que deixa tudo melhor.
Começando por um livro que foi febre muito incensada no comecinho desse ano. E já adianto que Tudo é rio, de Carla Madeira, merece todos os louros e reviews positivos que pipocaram pelas redes. Porque esse é um livro intenso, emocionante, que faz a gente desaguar e transbordar. Sofrer com os personagens e, ao mesmo tempo, se encantar com a escrita fluída que nasce nas margens do profundo rio que Carla Madeira nos convida a mergulhar. Não, esse não é um livro pra colocar só a pontinha do dedo na água.
Tudo é rio conta a história de Lucy, a prostituta mais sem pudores da cidade, que sente prazer em chocar e provocar pessoas/normas, e de Dalva e Venâncio, um casal super apaixonado que passa por uma perda enorme e, a partir de então, se afoga em tristeza e em tudo que não consegue dizer um para o outro.
Um livro sobre amor, traição, sobre o que fazer com o imperdoável – quando a gente é a vítima, mas também quando é quem cometeu esse ato tão horrível. Como perdoar alguém que nos causou a pior dor da vida? Como nos perdoar por ter causado a maior dor da vida de quem amamos? Como conviver com a culpa. E como recomeçar. Um livro forte que é bonito do início ao fim. E o fim… Não vou contar, óbvio, mas é de uma delicadeza sem precedentes.
Tá no meu top 2 melhores leituras do ano, disputando com outro livro da autora que eu te conto logo mais. Se interessou? Então fica a dica de ouvir, depois de ler, esse episódio do Bom dia Obvious com a Carla Madeira.
Fazia um tempinho que A metade perdida estava na minha lista e, se você também não leu, fica o meu convite, incentivo, sugestão de se jogar nesse best seller, que trata de assuntos mega importantes como colorismo, passabilidade e por que algumas pessoas se afastam das suas origens.
Gêmeas, as irmãs Vignes vivem em uma comunidade negra no sul dos Estados Unidos que é obcecada pelo embranquecimento. Elas decidem fugir para uma cidade grande e é a partir daí que a história se desenrola. Entre os anos 1950 e 1990, o livro nos conduz pela infância e fuga das irmãs, seu recomeço e o momento em que a vida das suas se separa definitivamente, após Stella ir embora sem avisar.
Em seus caminhos apartados, as duas irmãs, idênticas em feições e cor, e suas filhas vão viver vidas muito diferentes graças ao racismo da sociedade. Enquanto Desiree se casa com um homem negro, de pele bem mais escura que a dela, Stella casa com um homem branco e vive em um bairro do subúrbio onde apenas brancos vivem. Ninguém, nem o marido nem a filha, sabem de seu passado, de que ela tem uma irmã e de que ela já foi considerada negra pela sociedade.
Um livro potente, que também fala de amor, família e esse grupo de mulheres que cuidam umas das outras, apesar de nem sempre concordarem sobre assuntos importantes. Que cria personagens complexas, com tantas camadas e histórias, que faz a gente acabar o livro com a sensação de querer mais.
Putz, eu pensei muito antes de declarar, mas talvez esse aqui seja o meu favorito da lista inteira. Desde que li Véspera indico pra todo mundo, lembro de trechos e da sensação de ler esse livro e não saber pra onde a história vai nos levar, ainda que a gente já seja introduzido ao ponto de ruptura bem no comecinho. Em vários momentos, precisei respirar fundo e em outros, secar lágrimas porque o jeito com que Carla Madeira conduz a história é belíssimo.
Véspera conta a história de irmãos gêmeos, Caim e Abel, do nascimento à vida adulta. Se você teve uma breve introdução às histórias bíblicas, deve lembrar que o destino dos irmãos Caim e Abel originais não são exatamente o que se espera para os filhos. É na iminência da tragédia anunciada desde seus nascimentos que o livro desabrocha. Em todas as vésperas que criam momentos extremos.
O livro se divide em dois tempos, contando a história dos irmãos e a de Vedina, uma mulher em um casamento sem amor e mãe exausta que, durante um momento de descontrole, empurra o filho para fora do carro e segue dirigindo. Poucos minutos depois, ela volta para buscá-lo e não encontra o menino, nem qualquer vestígio de que ele estivesse ali.
Tem horas que Véspera vai te fazer respirar fundo, acelerar o coração e se emocionar. Porque Carla tem essa habilidade tão especial de criar em cada pedaço banal do cotidiano algo pra encher os olhos e o coração.
Outra grata surpresa, Com armas sonolentas é um livro sobre mulheres, laços, abandono, afeto, sobre o poder do insconsciente e sobre tantas outras coisas que são difíceis de definir.
O livro gira em torno de três mulheres. A primeira é Anna, uma aspirante a atriz que vê num diretor de cinema alemão a possiblidade de ser reconhecida na carreira e se muda para a Alemanha com ele. A segunda é a jovem alemã Maike, que decide, sem razão aparente, estudar português na universidade para o desgosto dos pais advogados. Já a terceira é uma jovem sem nome, que aos 14 anos é obrigada a deixar a casa da mãe, no interior de Minas, para trabalhar como doméstica na casa de uma família rica carioca.
Ainda que tenham vidas muito distintas, elas estão conectadas pela solidão e pelo abandono. Ao mesmo tempo, todas passarão por uma jornada de encontrar no inconsciente uma viagem capaz de as fazerem se tornar quem realmente são. Essa mistura entre realidade e fantástico é um dos destaques do livro para mim – e olha que nem sou fã de fantasia.
Em alguns vários momentos, Com armas sonolentas dilacera o coração. São histórias que a gente conhece, já ouviu falar. Mães e filhas. Mulheres fortes, sozinhas e acompanhadas umas das outras. Acompanhadas do peso do mundo, mundo esse que não foi exatamente cordial com elas.
Um suspense que prende do início ao fim e que traz em si uma série de temas importantes, como gênero, raça, poder e colonialismo. Esse é um daqueles livros pra ler em um dia, tamanha a vontade de saber pra onde a história vai, mas que também funciona lindamente pra atiçar a vontade de quem só tem alguns minutos por dia.
Nada vai acontecer com você conta a história das irmãs Viviana e Lucinda, a partir do desaparecimento de Vivi. O livro é dividido entre as perspectivas das duas, começando com Lucinda descobrindo que a irmã sumiu e tentando descobrir seu paradeiro. Depois, o foco passa a ser Vivi em sua luta para sobreviver e entender o sequestro.
Além da história super intrigante e atrativa, uma das coisas que mais me agradou no livro foi seu tom ácido, às vezes irônico e cínico, às vezes direto e sem fazer rodeios para questionar estruturas de poder e o machismo que faz com que homens achem que são donos de mulheres. Indico demais!
E se você achou que acabava por aqui, bora com dicas express de livros que não alcançaram o meu topo, mas também foram ótimas leituras. Começando por Redemoinho em dia quente, um livro de contos sobre as mulheres do Cariri que flerta com o fantástico e com o real, sem deixar de ser belo em cada palavra.
Ao contar a história de uma garçonete de um badalado restaurante, que sai com os clientes e pessoas ricas para roubar itens de luxo, Tudo pode ser roubado é sagaz em retratar estereótipos de São Paulo e vai te prender do início ao fim.
Já Carrie Soto está de volta nos faz mergulhar no universo do tênis para acompanhar Carrie, uma jogadora que volta da aposentadoria para defender o seu legado de títulos. Um livro sobre superação dos limites, ser mulher no esporte e superar também a necessidade de ser perfeita o tempo inteiro. Quer saber mais? Tem uma resenha mais aprofundada dele aqui!
Por último, um romance levinho que foi sensação no TikTok, perfeito pra levar nas férias ou devorar no recesso. Leitura de verão, em português do Brasil, gira em torno de January, uma escritora romântica e otimista que está vivendo o pior momento de sua vida, e Augustus, um escritor de ficção renomado e mau humorado que não se interessa pelo amor. Os dois se tornam vizinhos e estão sem inspiração para os próximos livros, então apostam em um escrever o gênero literário do outro e ver quem é publicado primeiro. Eu simplesmente AMO essa premissa – talvez por isso me estendi explicando – e daqui você já sabe, né? Amor no ar.
É isso, espero que cê tenha gostado das dicas. E se gosta de receber sugestões de leitura o conforto do seu e-mail, além de dicas de moda e textinhos de cotidiano, se inscreve na minha newsletter.