Não tenho roupa: o que fazer quando existe um descompasso entre a gente e o armário

Cena da série Sex and the City, com Carrie em frente ao seu closet usando um vestido de paetê.

Uma pessoa parada em frente ao armário. As várias peças disponíveis encaram de volta, mas a sensação é de vazio e, minutos depois, se transforma em descrença: não é possível que não exista nada que eu possa vestir aqui. É claro que existe, mas passa por usar peças seguras de jeitos seguros e a pessoa em questão quer se aventurar, fazer diferente, mas nada aparece. Nada apetece.

É muito possível que você já tenha passado por essa cena corriqueira antes de sair para o trabalho ou ir àquele evento que estava esperando há um tempão. Pode ser uma falta de criatividade momentânea, claro que pode, mas e se não for? Aí nós temos um problema mais sério: um armário em possível descompasso com quem você é agora. E sabe como eu sei disso? Porque estou nessa exata situação há algumas semanas – desde a chegada do verão pra ser mais específica.

Cena do filme 'De repente 30' com a protagonista em frente a um closet com muitos sapatos.

E aí pensei que posso não ser a única passando por isso nesse momento, então decidi criar esse post para dividir todas as estapas de como ter um armário mais funcional e versátil, que combine com você.

Bora tomar um cházinho? 🫖

Não é você, sou eu

Foto do filme O diabo veste prada com Andy segurando vários sapatos em frente a um closet.

Se você está lendo até aqui, provavelmente se identificou com a sensação. E deve estar se perguntando como aquelas peças todas acabaram se tornando estranhas. Pode até passar um filminho na cabeça, tipo comédia romântica. Você numa loja, a troca de olhares, o toque, a intimidade do provador, vocês duas abraçadinhas até o caixa ou, em tempos mais modernos, depois de tanto arrasta pra lá e pra cá, ela chamou sua atenção entre as tantas possibilidades. E se o começo foi tão bonito e apaixonado, o que mudou?

Aqui temos um dos mais sinceros não é você – cara roupinha – sou eu. Que mudei, que não me sinto 100% eu com esses itens, que antes já me foram muito queridos ou, pior ainda, que ficaram naquele cantinho do armário restrito às compras por impulso.

Mudar faz parte

Montagem vertical com quatro fotos, dispostas lado a lado em duplas. Foto 1 (em cima, à esquerda): Marcie posa em frente a uma parede amarela. O look é composto por chapéu preto, cropped cinza listrado de gola alta, saia de couro rodada, bolsa vermelha e bota preta com franjas. Foto 2 (em cima, à direita): Marcie posa em frente a uma parede. O look é composto por cropped cinza, calça preta skinny preta e camisa de flanela vermelha amarrada na cintura. Foto 3 (embaixo, à esquerda): Marcie posa em frente a uma porta verde. O look é composto por blusa rosa floral, calça vermelha e tênis de cano alto amarelo. Foto 4 (embaixo, à direita): Marcie posa em frente a uma parede branca. O look é composto por camiseta branca, saia mídi plissada branca com estampa floral rosa, cinto de palha marrom e sandália dourada de tiras finas.
Todas essas aqui sou eu nos últimos 6, sim, SEIS anos! Tá vendo as diferenças?

A primeira coisa que preciso destacar é que mudar faz parte da vida, a gente queira ou não. Mudamos de trabalho, de cidade ou país, de círculo de amigos, de estilo de vida, namoramos, terminamos, temos filhos, mudamos drasticamente de carreira… Mudamos de corpo, de desejos, de lifestyle… Mudamos. Só pra gente ter um exemplo recente, nos últimos dois anos fomos obrigadas a mudar MUITO, com a vida virando de cabeça pra baixo.

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Em meio a tantas versões de nós, nada mais justo do que as peças – tradução da nossa essência em cores, tecidos e modelagens – mudarem junto. Se você passou por uma mudança muito drástica recentemente, é bem possível que esteja sentindo esses impactos também no armário. Isso quer dizer que o armário inteiro não funciona mais? Muito pelo contrário. Assim como as suas novas versões carregam as antigas na essência, o armário também deve ter alguns – ou vários – itens que seguem importantes e vão revelar o que você gosta.

Montagem vertical com quatro fotos, dispostas lado a lado em duplas. Foto 1 (em cima, à esquerda): Marcie posa em frente a uma parede branca. O look é composto por blusa rosa com mangas bufantes curtas e gola laço, calça vermelha e sandália de tiras finas dourada. Foto 2 (em cima, à direita): Marcie posa em frente a uma parede branca. O look é composto por camisa amarela com mangas arremangadas e nó na cintura, saia mídi animal print e sandália dourada. Foto 3 (embaixo, à esquerda): Marcie posa em frente a uma parede branca. O look é composto por camiseta branca, saia mídi plissada branca com floral rosa, cinto de palha e sandália dourada de tiras finas. Foto 4 (embaixo, à direita): Marcie está em frente a uma parede branca. O look é composto por vestido longo branco, mule branco, camisa branca amarrada na cintura e bolsa de palha.

Deixa eu te dar um exemplo, elucidando o que aconteceu comigo e o meu armário de verão. Para começar, eu não sou uma pessoa que gosta tanto assim de calor e quero estar o mais fresca possível. Porém, passei quase todos os verões da vida adulta no trabalho, com, no máximo, uns feriadinhos na praia. Essa realidade fazia eu me dedicar mais a comprar peças de verão que se adaptassem ao dress code do escritório – que tende a ser muito implicante com pele à mostra.

A minha solução foi investir em vestidos longos e saias mídi soltinhas com camisetas leves como meus maiores aliados. E até hoje eu acho esses looks lindos, mas minha realidade mudou MUITO. Hoje eu moro em outro país em que faço basicamente tudo caminhando, trabalho de casa como freela de conteúdo – ou seja, não preciso me adequar às regrinhas de looks corporativos e, infelizmente, não tenho mais acesso ao abençoado ar condicionado -, além de viver o verão de forma muito mais ativa.

Tudo isso – e não é pouco – me fez chegar nesse armário mutante, que em parte me contempla, em parte não me diz mais nada.

É hora de discutir a relação

Foto da série The Bold Type. As três protagonistas estão dentro de um closet, bebendo vinho.

Pega aquela taça de vinho, um chá bem quentinho, e vem descobrir o que funciona – e não funciona mais nessa relação. Aqui vão algumas perguntas fundamentais:

Quais são as peças que eu uso com frequência? E que porcentagem do armário elas ocupam? Pode parecer uma pergunta bem de exatas, mas essa estimativa, que não precisa ser exata ou com regra de três, vai te apresentar um panorama geral da realidade do armário e de quais peças realmente têm sido úteis na sua vida.

A segunda pergunta é esse armário contempla a sua rotina? Pode abrir a agenda-planner-calendário e ver como é o seu dia a dia. Você voltou pro escritório e não sabe mais criar office looks criativos? Caminha muito e precisa de mobilidade? Vai seguir de casa e gostaria de mais conforto? Tem uma rotina agitada e precisa de looks que vão do dia à noite? Tem alguma ocasião específica que você tem mais dificuldade pra se vestir? Vai pensando e anotando esses insights – eles vão ser muito importantes para as etapas futuras.

Separe suas peças

Foto do filme Os delírios de consumo de Becky Bloom. Ela está sentada dentro de um closet abarrotado de sapatos.

Para enxergar tudo melhor, a dica é separar as peças em pilhas de uso muito, uso médio e não uso mais/nunca usei. Se a pilha do que você não usa é muito maior do que a que usa, temos um problema. A partir daqui, vale analisar por que você não usa. Aqui vão alguns dos principais motivos e possíveis soluções!

1. Dificuldade de combinar. A dica é buscar inspirações online e tentar replicar nos seus looks, mas usar de verdade mesmo, nada de ficar se enganando e mantendo a peça parada, ok? E se precisar de dicas, vem de mensagem que eu adoro ajudar!

2. A peça precisa de ajustes. Bora separar em uma pilha específica e depois levar na costureira.

3. Não serve mais. Esse é um tema um cadinho – ou cadão – mais delicado, porque mexe com muito padrão estético internalizado na gente, né? No caso de perder muito peso, alguns ajustes reversíveis de costureira podem trazer as peças de volta para a ativa sem transformá-la em outra coisa. Já se a peça está apertada, costuma ser mais difícil de reajustar. Justamente por ser uma questão difícil, aqui não existe regra, você decide se mantém essas peças por aí e o que isso significa.

Mas é importante dizer que a gente veste o corpo que tem agora e ninguém merece se sentir apertada, tolida ou engolida pelo próprio armário. Então, talvez seja o momento de garantir pecinhas que abracem o corpo de agora e, se mudar no futuro, pode ajustar ou desapegar. Na moda, nada é definitivo e isso é uma coisa boa.

4. Siplesmente não usa mais, nunca usou, a peça não combina com você. É hora de desapegar! Pode criar lojinha online, doar, vender pra brechó… Uma outra alternativa é montar um brechó de troca com outras amigas que também estejam desapegando de itens, assim, todo mundo sai de roupa nova sem necessariamente gastar.

E do que você gosta?

Montagem vertical com quatro fotos, dispostas lado a lado em duplas. Foto 1 (em cima, à esquerda): Marcie está em frente a um lago azul. O look é composto por cropped com babados vermelho vichy, saia mídi vichy de babados, tênis branco e bolsa de palha. Foto 2 (em cima, à direita): Marcie está em uma sala. O look é composto por pijama de poá branco e fundo marrom, cropped laranja e bolsa de palha. Foto 3 (embaixo, à esquerda): Marcie está em frente a uma folhagem. O look é composto por cropped laranja, calça vichy amarela, quimono rosa, mule rosa e bolsa de palha. Foto 4 (embaixo, à direita): Marcie posa em uma sala. O look é composto por camiseta branca, calça balloon quadriculada em tons de vermelho, azul, amarelo e verde.

Até aqui nós analisamos bastante os possíveis problemas do armário e o que fazer com tudo o que você não usa mais. Agora, e como descobrir o que você gosta e para onde esse armário está indo? Comecemos por olhar analiticamente pras peças que ficaram nas pilhas de uso e gosto.

Para esse exercício, você pode anotar, mandar áudio, fotografar, gravar um vídeo… O que importa é ter em algum lugar fixo os insights que vão surgir. Faça uma espécie de raio x da peça, ela é colorida ou neutra, que cor tem, é de que tecido, é mais soltinha ou mais ajustada ao corpo, que tipo de manga ela tem, é de cintura alta ou baixa, é brilhosa ou mais minimalista, é estampada ou lisa, que tipo de estampa tem? Os tipos de peça que você gosta mais também valem ser anotados, por exemplo, prefiro camisa que camiseta, short que saia, macacão ou vestido e assim por diante.

Montagem vertical com quatro fotos, dispostas lado a lado em duplas. Foto 1 (em cima, à esquerda): Marcie, uma mulher branca de cabelos curtos loiros está em frente a uma parede branca. O look é composto por cropped vichy vermelho com babados e pantalona de cintura alta azul com risca-de-giz branco, sandália rasteira laranja e bolsa azul acolchoada. Foto 2 (em cima, à direita): Marcie está em frente a uma parede de plantas. O look é composto por calça vermelha de alfaiataria, cropped laranja, mule rosa e quimono quadriculado em tons de vermelho, azul e amarelo. Foto 3 (embaixo, à esquerda): Marcie posa em frente a uma sacada, com um teto repleto de fitinhas coloridas. O look é composto por macacão laranja, blazer preto estampado em rosa, tênis branco e bolsa rosa Marc Jacobs. Foto 4 (embaixo, à direita): Marcie posa em frente a uma parede rosa. O look é composto por cropped com babados rosa, saia acetinada curta rosa, tênis branco e bolsa rosa.

No exemplo do meu próprio armário, as peças que eu mais gosto possuem cores bem vibrantes, com modelagens confortáveis e levinhas. Eu gosto das camisetas, mas, para o verão, prefiro estar de cropped bem fresquinho e, preferencialmente, sem mangas. Eu ainda adoro as saias e vestidos bem soltinhos e mídi/longos, mas também quero me aventurar eventualmente pelos curtos. Só essa breve descrição já direciona o meu olhar de forma muito mais certeira para o que eu gosto.

A segunda pergunta que você pode se fazer para entender o que gosta ou está buscando no armário é: eu queria que o meu estilo/armário/look fosse mais ________. E aí completa com aquela palavrinha ou grupo de palavras que vem à sua cabeça.

Se o objetivo é mais amplo, por exemplo, ser mais elegante, chic, divertida, vale pensar em que peças passam essa imagem apra você. Quais são aqueles looks que você se vê no espelho e pensa “é isso”? É claro que existem alguns “símbolos universais” que já se consagraram na nossa sociedade, mas isso não significa que existe uma fórmula fechada de como ser alguma coisa – e se tem consultora e influencer vendendo isso até hoje, desconfie.

Você pode criar um moodboard só das coisas que gosta como guia, mesclando com as informações sobre as peças que anotou no exercício um.

As compras

Montagem vertical com quatro fotos, dispostas lado a lado em duplas. Foto 1 (em cima, à esquerda): Marcie, uma mulher branca com cabelos curtos loiros está em uma rua vazia. O look é composto por camiseta verde limão, calça de alfaiataria verde, mule rosa com decote v e bolsa acolchoada azul. Foto 2 (em cima, à direita): Marcie posa em frente a uma parede bege com um vestido longo com estampa floral laranja e verde, tênis branco, bolsa rosa e leque na mão. Foto 3 (embaixo, à esquerda): Marcie posa sorrindo em um festival com várias pessoas ao fundo. O look é composto por cropped de xadrez vichy rosa com mangas bufantes e amarração no peito. Foto 4 (embaixo, à direita): Marcie posa com a mão na cintura em frente a uma parede branca. O look é composto por cropped branco, saia mídi pink e scarpin rosa com tornozeleiras metalizadas.
Algumas comprinhas dos últimos meses que vieram depois desses exercícios

Ainda que não seja uma obrigatoriedade, é comum sentir a necessidade de comprar algumas coisas novas para animar e completar esse armário em transição. E para não cair nas compras por impulso, tenha em mãos todas as informações que descobrimos durante esse post.

Outra dica que super funciona é criar uma lista de prioridades. Pense no que você mais sente falta. São peças para os eventos que voltaram a surgir? Looks de trabalho? Mais cor ou peças bem confortáveis? Um casaco versátil de inverno? São neutros pra conectar as peças que já tem ou algo bem ousado pra apimentar os básicos?

Note se você tem muitas partes de baixo e poucas de cima, ou vice-versa. Essa discrepância pode estar dificultando as combinações. Todas essas informações vão te ajudar a, em primeiro lugar, entender seu estilo, e, em segundo, a criar uma lista de prioridades das peças que você mais precisa. Vá anotando dos itens mais importantes para os menos e lembre que você não precisa comprar tudo de uma só vez – muito pelo contrário. Vá trazendo as peças novas, combinando com tudo o que você tem e vendo como essas novidades vão se adaptar e fazer a diferença nos looks.

Sim, é um longo processo, mas compensa

Montagem vertical com quatro fotos, dispostas lado a lado em duplas. Foto 1 (em cima, à esquerda): Marcie, uma garota branca de cabelos castanhos presos em coque baixo está em frente a um prédio com paredes rosas. O look é composto por vestido curto vermelho floral sem alças, quimono azul floral mídi e sandália bege rasteira. Foto 2 (em cima, à direita): Marcie, uma mulher branca com cabelos castanhos presos em um coque baixo, está em frente a uma porta amarela. O look é composto por blusa rosa com floral vermelho de mangas fluídas amarradas na cintura, saia longa marrom com três babados e sandália bege. Foto 3 (embaixo, à esquerda): Marcie está em frente a uma porta branca com vidros. O look é composto por camiseta branca para dentro de uma calça acetinada brancas com listras laranja e sandália dourada de tiras finas. Foto 4 (embaixo, à direita): Marcie está em frente a um prédio amarelo. O look é composto por cropped com babados de xadrez vichy vermelho e bermuda azul marinho com poá branco.

São muitas perguntas e muito olhar pra dentro. Sem falar no tempo de descer o armário e encarar as peças com sinceridade. Ao todo, entre entender que tinha um problema, investigar os motivos, criar uma lojinha online dos desapegos e montar o dossiê de compras, gastei algumas poucas horas por semana durante um mês. Poderia ter sido menos, se eu tivesse menos coisas da vida para fazer, mas também poderia ser mais.

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“E compensa?”, você pode me perguntar. Muito! Além de estar mais feliz na hora de montar meus looks, estou com a sensação de que me reencontrei e como eu me sinto está também traduzido nas roupas que visto. Por isso, indico demais e espero que as dicas sejam muito úteis para você! Se colocar em prática, me conta nos comentários?

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