We Don’t Talk Anymore

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Então você finalmente entrou no curso dos sonhos. Você não faz ideia do quanto eu fiquei feliz ao passar na frente da sua casa, atrasado como sempre, e ver aquela faixa ridícula de ‘bixo’ com uma das suas piores fotos e aquelas frases bregas. Até pensei em parar, te chamar e dar um abraço. Comemorar com sua mãe e brincar com seu cachorro. Você me faria tomar café e tentaria me convencer a passar o dia jogado no seu sofá vendo filmes do Zac Afron sem camisa. A proposta seria tentadora, eu iria reclamar que você não tem responsabilidades e iria pegar meu ônibus, pensando em como era possível alguém levar tudo de forma leve quando eu parecia estar sempre preso em um peso de 5kg. “Você se preocupa demais!” Você não faz ideia, nem vai fazer, nós não nos falamos mais.

Fiquei com aquele cara que prometi pela milésima vez que não iria ficar. Prometi mais cem vezes. Quebrei a promessa mais cem vezes. Hoje, ele nem parece tanto assim. Sim, eu coloquei muitas expectativas. Sim, você tinha avisado que isso ia acontecer. Você me conhecia (ainda conhece) muito bem, sempre soube como me quebrar, me aconselhar e me trazer de volta. Me fazer ficar puto querendo jogar gasolina e fósforo no seu corpo e, logo depois, me convidar para sair como se nada tivesse acontecido. Eu revirava os olhos, brigava um pouco e ia. Você, mesmo sendo um drama esporádico, era segurança. Um dos únicos que me conhecia de verdade e ainda ficava. Clichê, mas verdade. Talvez seja por isso que quando você realmente foi, eu senti falta de um pedacinho, te odiei, me odiei e, principalmente, soterrei todos os meus amigos com a nossa história. Você não iria voltar. Alguém tinha que saber porque, dessa maldita vez, você não iria voltar.

Bora tomar um cházinho? 🫖

Encontrei nosso grupo de amigos sem você e, mesmo com todos fingindo normalidade, eu me sentia deslocado. Perdi várias noites de sono e repassei mil vezes toda a nossa história, desde o dia em que nos conhecemos. Quando achamos que ficar era uma boa ideia. Quando viramos amigos. Melhores amigos. Quando fui seu apoio. Quando você foi o meu. Quando fugimos de casa. Quando planejamos adotar uma criança juntos só pra compensar todas as cagadas que os pais fazem. Nós seríamos os pais mais legais do mundo e nossos filhos seriam sempre bem vestidos. Me culpei por muito. Por tudo. Por te sobrecarregar, por não perceber que meu papel na sua história tinha mudado, por ser como eu era, em cada minúsculo detalhe. Então mandei você se foder, a culpa era sua e você não tinha tido a mínima consideração com tudo que eu senti. Tinha me quebrado e sabia. E não se importava. Repeti essas etapas em looping, dormi pouco e evitei falar de você. Era um plano patético, mas era o melhor que eu conseguia fazer.

Acho importante dizer que não te odeio mais, assim como nós não nos falamos mais. E, depois de tanto tempo e de tantas respostas e perguntas que eu mesmo criei para fingir que nós resolvemos tudo, eu só queria que você soubesse que foi, disparado, a minha maior decepção. Mais do que aquela regata de surfista que ganhei no último natal. Mais do que todas as vezes em que fiz drama e tornei meus problemas o fim do mundo. E em parte é por ter te perdido, mas, principalmente, por aquilo que todo mundo acha minha maior qualidade ser a coisa que você jogou como meu pior defeito e motivo para partir. Eu sigo me preocupando demais, organizando festas surpresas para quem não merece, gastando dinheiro em presentes super elaborados para quem não perde cinco minutos enrolando o meu. E é exatamente por já esperar o pior das coisas e pessoas que eu queria que te proteger, cuidar, enrolar em plástico bolha e, só depois disso tudo, deixar brincar. Hoje, pasme, eu não acho que estava errado. Pelo contrário. Provavelmente, inclusive, faria tudo de novo.

Talvez você devesse saber que eu troquei de casa duas vezes. Já estou com as malas prontas pro tal intercâmbio e me arrumando para a festa de despedida que ninguém disse que faria, mas eu tenho certeza que vão fazer. Superei vários amores platônicos. Encontrei mais amores platônicos. Lembrei de todos os seus aniversários. Não resmunguei nas 200 filas que peguei hoje, como recompensa comprei um cardigan novo que você acharia idêntico a todos os que eu já tenho. “MEU, NÃO TEM NADA A VER!” Os próximos meses tendem a ser ótimos, em muito, muito tempo, parece que quase tudo está no lugar em que deveria. É. Você tinha razão. E eu adoraria te contar tudo isso, mas nós não nos falamos mais. E esse não é mais um drama, uma maneira de chamar atenção, ou uma boa história que merecesse virar música. É só uma pena.

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