Vamos falar sobre análise de coloração pessoal?

Montagem com fundo branca e duas fotos lado a lado. Foto 1 (à esquerda): duas mulheres estão paradas em uma rua movimentada. O look da mulher 1 é composto por blusão de lã amarelo, minissaia marrom de veludo cotelê, bota caramelo de bico fino. O look da mulher 2 é composto por blusa verde estampada, calça pantalona de alfaiataria bege e bolsa marrom.

Durante a nossa semana cromática, estamos falando bastante sobre como usar, combinar e se relacionar melhor com as cores. Questionamos os tons neutros tidos como universais e salientamos que as outras cores – aquelas que muitas vezes temos receio de usar – estão presentes em tudo: na natureza, na arte, nas refeições e, também, em você. Sim. Você. Já ouviu falar que cada pessoa tem uma paleta cromática, composta pelos tons, contraste e brilho da pele, dos olhos, da boca, do cabelo? Descobrir quais são elas é o objetivo da análise de coloração pessoal, método que chegou com força total nos últimos anos e está dentro do grande guarda-chuva chamado consultoria de estilo.

Para entender o que essa análise significa, o que leva em consideração e quais são os benefícios de fazer, entrevistei duas consultoras de estilo e imagem, a Mariana Marimon, aqui de Porto Alegre, e a Alice M, de Belém. As conversas foram suuuper esclarecedoras, leves e nada impositivas. O objetivo é realmente conhecer um pouquinho mais sobre si e como as cores “certas” podem fazer a diferença. Confira as respostas e prepare-se para querer descobrir as suas cores num futuro próximo.

O que é a análise de coloração pessoal e o que leva em consideração?

Bora tomar um cházinho? 🫖

Alice M: A análise de cores é um estudo, uma descoberta da sua paleta natural. Porque a gente tem uma paisagem visual: nasce com uma cor de pele, uma cor de olho, o branco do seu dente é um branco específico, o reflexo do cabelo pode ser mais brilhante ou mais opaco, então o que a gente faz é analisar as cores que têm nessa paisagem natural e o que elas têm em comum e repetir esse padrão nas suas roupas.

Mariana Marimon: Todas as cores da pessoa vão estar presentes na cartela. Se eu fosse pintar um retrato daquela pessoa, todas as cores que eu colocaria na paleta pra fazer a pintura vão estar na cartela. Por isso, a cartela vai ter como objetivo a harmonia, estar de acordo com os tons que a pessoa tem em sua composição.

Como a análise de coloração funciona na prática?

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Alice M: É um processo bem dinâmico. Eu começo com a pulsão da pele, sabe quando você aperta e fica uma manchinha mais clarinha? Então, se analisa essa manchinha com uma luz neutra. Depois, olho o cabelo (principalmente raiz), a pele da pessoa… Às vezes a pessoa precisa se mexer, porque o subtom tem muito a ver com a nossa composição de betacaroteno e hemoglobina, que é o que faz a gente ficar um pouquinho mais avermelhada ou amareladinha. Os drapes e tecidos coloridos [que são colocados logo abaixo do rosto] ajudam a pessoa ver na prática a diferença que os tons têm na pele dela. A vantagem do lenço é que é uma maneira de fixar, a pessoa sente que fez parte do processo, percebe e entende qual o impacto que isso realmente tem no visual dela. Tem gente pra quem faz uma grande diferença, que tem uma cor que ‘destrói’ a pessoa, assim como tem quem é mais neutra e não vai ver muita diferença. No fim, explico as propriedades de cor da paleta pra que a pessoa consiga entender suas cores, muito mais do que decorar o nome da paleta.

Mariana Marimon: Eu uso o método sazonal expandido, que é um método baseado nas 4 estações do ano, que têm cartelas e características bem definidas. Por ser expandido, além das estações puras ou básicas, a gente fala também em umas características secundárias que são tão importantes quanto a estação. Por exemplo: quando a gente pensa em uma pessoa com uma cartela que tem cores de inverno, a gente tem outras características pra analisar, se ela é o inverno puro, ou seja, o inverno frio, se ela é o inverno brilhante ou, ainda, inverno profundo. Então essa é a expansão, digamos assim, do método sazonal. A primeira análise que a gente faz é de temperatura, pra ver se o tom e subtom é neutro, quente ou frio. Ele é quente quando ele tem um fundo amarelado e dourado, que são as primaveras e outonos, e ele é frio quando tem tons mais azulados, quando é verão ou inverno. O neutro é uma mistura dos dois, mas mesmo nele, existe uma predominância de quente ou frio. As características secundárias não são necessariamente excludentes e é aí que entra a questão da percepção. Por exemplo, quando a gente fala que é uma pessoa é um inverno neutro, ela é um inverno que ou pode ser brilhante, ou pode ser profundo. Ou seja, ela vai apresentar essas duas características, porque ambas são características de inverno também. O que a gente tem que analisar, e aí entra a percepção e a comparação dos tecidos, é qual delas é mais predominante. Tem pessoas que tu olha e já sabe, mas outras é mais complexo. No final eu forneço uma cartela digital, mas incentivo que as clientes entendam as características das cores delas, ao invés de decorar essa amostra de cores.

Das pessoas que eu já vi falando sobre, todas acharam o resultado da coloração pessoal algo life-changing, assim. Quais são os benefícios de fazer?

Alice M: A análise de cor vai personalizar o seu guarda roupa. Ao invés de comprar qualquer coisa, você vai comprar o que você sabe que combina com o seu tom de pele. Então esse sentimento de que a coisa foi feita pra você, é maior. Mas eu sempre falo é que análise de cores não é sobre quem você é, porque as suas cores são uma definição genética. Eu não escolhi as minhas cores, não tem nada a ver com a minha personalidade, com as coisas que eu acredito, enfim. É uma ferramenta legal, ajuda a personalizar as suas escolhas e a abrir o olhar pras cores e pra perceber outras coisas, mas ela, sozinha, não diz nada sobre quem a pessoa é. O que a pessoa vai fazer após descobrir as suas cores é que é autoconhecimento, por isso acho importante estar aliado com a consultoria de imagem. Outra vantagem é você entender o que faz você gostar das cores que gosta, porque você se sente bem com aquelas cores, porque elas são importantes. Eu, por exemplo, uso muito preto e ele não está na minha paleta, mas, conhecendo as propriedades das cores que harmonizam comigo, consigo fazer concessões, com um preto mais opaco, tipo cinza escuro. Mas, principalmente, eu sei que eu me identifico com preto porque tem uma questão emotiva, de estilo, de expressão.

Mariana Marimon: Eu vou ser meio clichê, mas acho que traz autoconhecimento. É muito libertador poder se dar voz, saber o que funciona pra si. Eu acho que o processo todo é muito uma ferramenta muito poderosa. Pra dar um exemplo prático. Há um tempo atrás, a gente comprava batom de acordo com o que a blogueira estava indicando, a gente tinha até indicação de melhor nude – gente, nude depende do tom da boca da pessoa! Batom vermelho, também, parecia uma coisa meio universal, mas não é. Existem inúmeros tons de vermelho, que se encaixam melhor pra cada pessoa, então não existe um “todo mundo tem que ter” em nada. E é por isso que é libertador, sabe? Tu percebe que “nossa, eu não preciso usar esse batom só porque alguém diz que é bom”. Saber o que mais harmoniza e também o que mais chama a atenção faz com que a gente consiga se ver e se entender em outro nível. Eu, por exemplo, tenho umas manchinhas na pele e aí eu achava que às vezes passava maquiagem meio que pra esconder. Um dia eu olhei e percebi que as manchinhas eram na minha cartela, que elas ornavam comigo, então “por que vou brigar com elas?”. Até isso pode se transformar a partir do momento que a gente entende a nossa cartela e se percebe.

Eu tenho um grande receio de que a minha paleta não combine com o que eu gosto/uso e com a minha personalidade. Como vocês enxergam essa questão?

Alice M: Já aconteceu de uma amiga não gostar da cartela. E ela gravou dois depoimentos pra mim, 30 minutos de depoimento, explicando como foi o processo pra ela. As cores não são apenas uma harmonia com o nosso tom de pele, elas também passam mensagem, né, a gente tem um sentimento diferente com diferentes cores. Então o estilo da minha amiga não conversa com as cores da paleta dela. Nesse caso, a gente decide que o estilo dela deve prevalecer. Então ela prefere usar uma maquiagem dentro da cartela dela e usar a roupa que ela gosta, sem ficar presa.

Mariana Marimon: Isso é uma coisa que eu falo pras minhas clientes sempre: tem uma coisa que se sobrepõe, em qualquer circunstância, à cartela de cores pessoal, que é o estilo pessoal. A própria Taís [Farage, com quem a Mariana fez o curso de coloração pessoal e uma das referências no tema], ela é uma pessoa que só usa preto e isso faz parte de quem ela é, da persona que ela criou e isso é muito mais importante do que a cartela de cores dela, que não tem nada a ver com preto. Então assim, qualquer pessoa que me diga que gosta de cores de abadá de carnaval, todas as cores de marca texto que existe, e dá um outono escuro, por exemplo, que é uma cartela mais escura e queimada, nunca eu vou olhar pra essa pessoa e dizer “sinto muito, faz um brechó das tuas coisas”. Isso é muito inviável tu oferecer um trabalho que no título tem pessoal e não levar em conta a pessoa. Eu não posso prestar um serviço de análise e dizer que ela não pode usar coisas que, por vezes, até a definem enquanto pessoa. A gente dá um jeito. Escolhe um brinco, troca a cor do lápis de olho, mas não dá pra deixar isso de lado.

Agora com o isolamento social, é possível fazer coloração pessoal online?

Alice M: Eu não acredito em fazer online. Porque uma das propriedades que a gente vai analisar é o subtom de pele. E a gente afere o subtom quando a gente pressiona a pele, sabe quando você aperta e fica uma manchinha mais clarinha? Então a gente analisa essa manchinha com uma luz neutra e não tem como simular esse ambiente online. Além da qualidade das imagens, tem outra coisa é o ângulo. Experimenta pegar o celular e fazer uma foto, depois muda o ângulo 8 graus e faz outra: são duas cores diferentes. E essa barreira da câmera estará presente em mais de uma etapa.

Mariana Marimon: Tem consultoras que fazem ou estão desenvolvendo técnicas agora pra fazer online. Eu não fiz e não gostaria de fazer, porque não me sinto segura pra fazer online, mesmo que aprenda as técnicas. Mas isso é uma visão super pessoal, pode ser porque não fiz o treinamento ainda, mas não abro mão desse atendimento pessoal, falar com pessoa, olhar no olho, colocar a cartela do lado dela, eu acho que isso é fundamental.

Tem alguma dica para quem quer ficar mais atenta às suas cores ou pretende fazer a análise no futuro?

Mariana Marimon: Se olhe no espelho. Olha mesmo, senta ali, em um lugar confortável e começa a observar quais são as caraterísticas do teu rosto. Como é o traço da tua sobrancelha, como é a cor do teu olho, como é o delineado da íris, como é a transição de boca pra pele, porque, na verdade, tu vai acabar replicando isso na tua cartela de coloração. Se tu tem acabamentos profundos, vamos dizer, que é esse sombreado, esse escuro ao redor dos olhos, na boca, o nariz se é bem desenhado, parece esculpido, são características que tu vai ter também na cartela. Ou se tu é aquela pessoa que os outros dizem “ai, achei que tu tava de lápis de olho”. Isso é uma característica de uma cartela brilhante. Então observar essas características principalmente no rosto, né?

Por que o rosto é tão importante para a análise?

Alice M: Começa com o fato de que o nosso rosto está em destaque e raramente coberto. A pele do rosto é mais fina e irregular, o que faz com o que o nosso subtom fique mais evidente. E existe um ponto bem importante que é a sombra. Ela faz toda a diferença na expressão e na percepção de volume do rosto. Então quando a gente coloca, por exemplo, uma cor que aumenta o nosso contraste, essa sombra vai parecer mais profunda e o nosso rosto vai parecer ter até um outro formato – o olho fica mais caído ou levantado, por exemplo… Realmente a correlação das cores com o rosto faz uma grande diferença, é por isso que a gente coloca o lenço perto do rosto e a análise foca no rosto, porque é o lugar que mostra com mais clareza as diferenças. 

Eu criei essa semana cromática aqui no blog motivada pelo receio que muitas das seguidoras e leitoras expressam com o uso de looks coloridos, ainda que achem bonito. Por que vocês acham que a gente se desconecta tanto das cores?

Alice M: Tem várias questões, assim. A moda, as revistas, aquela coisa mais tradicionalzona, ela varia muito. Então tem os períodos que entra cor e que sai cor. A consultoria de imagem já é um mercado que por muito tempo foi conservador. Então ensinar a pessoa a se vestir só existia um jeito certo de se vestir e o resto é feio e é cafona. Então, esse mercado mais antigo de consultoria era bastante conservador e essa ideia das peças que todo mundo tem que ter. Um scarpin, uma saia lápis, uma camisa social. Assim, você mora em Salvador e você é arquiteta, mas precisa andar de scarpin? Então assim, não era nada personalizado, né, e não tinha cores nesse armário padrãozão que todo mundo tinha que ter. E até hoje tem gente que fala: “ai, tem que ter x por cento de cor no armário e o resto tem que ser neutro e tudo”. Então uma coisa bacana da análise de cor é que ela dribla um pouco isso, então as pessoas percebem quais são as cores que funcionam melhor pra elas e não ficam tão presas nessas regrinhas. 

Mariana Marimon: É um assunto muito interessante. Eu sempre pergunto pras clientes: que cores tu gosta de usar? E é um clássico a resposta ser branco-preto-cinza. Então as pessoas têm um receio de usar cores, principalmente aqui no sul. E a gente cresceu em uma época de minimalismo, que foi nos anos 1990. A moda que a gente viu surgindo ali, era uma moda de rebote dos anos 80, então era calça jeans, camisa branca e coisas muito, muito básicas. Essa é a referência que a gente cresceu vendo, não muita cor. Eu sempre digo: pensa nas nossas mães, elas são muito mais coloridas que a gente. Enfim, quando as coisas começam a ficar muito padronizadas, a gente começa a refletir, sabe? Então as cores começam a voltar, no cenário da moda. E aí as pessoas ficam confusas, porque elas não sabem que cor usar, o que combina – e são reflexões que a gente não tá muito acostumada a fazer. A gente não se familiariza com as cores de um jeito que seria mais fácil. Por vezes nem percebe que uma cor tem muitas possibilidades. O amarelo, por exemplo, pode ser mais cítrico, queimado, mais ‘puro’. É impossível não gostar de nenhum deles.

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